quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Protetores de animais. 

Sinônimo de trabalho, obstinação e muito amor.




Prezados leitores, vocês podem até pular essa longa introdução e ir direto para a entrevista com a protetora Marilena Cantizani, que está muito bacana. Mas eu diria que vale a pena tomar conhecimento dos dados que eu coloco, para vocês ajudarem inclusive a divulgar e fazer chegar principalmente àquelas pessoas que abandonam animais como se fossem objetos. Elas são responsáveis por números alarmantes em todo o Brasil. E, da mesma forma, são responsáveis por um problema de saúde pública. Afinal, o raciocínio é simples. Animais de ruas não são submetidos a medidas preventivas de saúde, estando mais suscetíveis à contaminação e, consequentemente, à transmissão de algumas dessas doenças. A mais conhecida delas, a raiva.

 “A Organização Mundial da Saúde estima que só no Brasil existam mais de 30 milhões de animais abandonados, entre 10 milhões de gatos e 20 milhões de cães. Em cidades de grande porte, para cada cinco habitantes há um cachorro. Destes, 10% estão abandonados. No interior, em cidades menores, a situação não é muito diferente. Em muitos casos o numero chega a 1/4 da população humana.

Esse trecho retirado de uma matéria reproduzida pela Agência de Notícias de Direitos Animais – ANDA, (http://www.anda.jor.br/13/09/2013/brasil-tem-30-milhoes-de-animais-abandonados), aponta números absurdos. Nada que já não saibamos, mesmo que de maneira pouco precisa. Não houve cidade por onde eu passasse, mesmo que em poucas por esse enorme Brasil, onde não fossem vistos cães e gatos perambulando pelas ruas. Considerando-se que, mesmo alimentados nas ruas por alguém que se compadeça com a fome desses seres, cuidados básicos de saúde e nutrição são impossíveis de serem mantidos por esses benfeitores. Afinal, um animal para ser bem cuidado, precisa ter uma guarda responsável, um lar; alguém disposto a ter custos com sua saúde, cuidados com a questão comportamental, além de muito amor.

Vamos fazer uma conta baseada no dado apresentado acima. Peguemos como exemplo a maior população brasileira, a da cidade de São Paulo. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, a população estimada de paulistas na capital para 2013 é de 11.821.873 habitantes. Esse total, dividido por cinco representa o número de cães, que é de quase 2,4 milhões. Destes, mais de 236 mil estão abandonados pelas ruas. E nós nem contamos a população de gatos abandonados. Mas se imaginarmos que a cidade de São Paulo segue a estatística nacional, a metade do número de cães abandonados, isso é, 118 mil, corresponde ao número aproximado de gatos de rua. Triste, não é mesmo?

Faltam ações públicas concretas para o controle da população de animais abandonados. Falta responsabilidade por parte de milhares de pessoas que adotam, compram ou ganham animais e que por vários motivos simplesmente os abandonam pelas ruas de todas as cidades pelo Brasil afora. Mais de 30 milhões de animais abandonados apenas em território brasileiro corresponde a três vezes a população de humanos do município de São Paulo.

Toda essa matemática é uma tentativa de mostrar a dimensão do problema. Além dos maus-tratos sofridos por esses animais nas ruas, outras questões sérias precisam ser consideradas, pois animais soltos também é um caso de saúde pública.

Quem faz a diferença?

Diante dessa realidade e desses números, entram as instituições que acolhem, cuidam e colocam os animais para adoção, bem como, e com uma importância imensurável, os protetores que desempenham o mesmo papel das instituições, passam pelos mesmos problemas, ou alguns ainda maiores, e que muitas vezes são cobrados por uma parcela de pessoas que pouco conhece a rotina estressante dos obstinados e corajosos defensores de animais, que lutam, da maneira que conseguem, contra essa realidade. Alguns com possibilidade de acolher mais animais, outros nem tanto. Mas todos, indiscutivelmente, fazendo a diferença e oportunizando uma vida melhor, com respeito e zelo a muitos cães e gatos.

Convidei algumas pessoas pelo Facebook escolhidas de maneira aleatória, para nos contar o seu dia a dia nessa luta interminável para, se não acabar, pelo menos atenuar essa realidade tão brutal.

Hoje a entrevista é com a tradutora juramentada de inglês, moradora de Campinas, Marilena Cantizani. Com 44 anos, há mais de uma década vem se dedicando a resgatar gatos pelas ruas da sua cidade e tentando encontrar lares dignos desses animais que muitos esquecem que são seres vivos e indefesos. Seu grupo, ResGatinhos, possui página no Facebook e faz parceria com clínicas veterinárias para cuidar dos gatos e prepará-los para adoção.




"Fazemos o que está dentro de nossas possibilidades, da melhor maneira possível."

Cãopetente – Quantos gatos fazem parte da sua família?

Marilena Cantizani -  Tenho seis gatos. Horácio, 11 anos; Maricota  e Freddy-Bear com 10; Yuri e Emília tem oito anos e Oliver, sete. Horácio é um Sagrado da Birmânia, o primeiro gato que tive na vida. Foi ele que fez com que eu me apaixonasse perdidamente pelos felinos. Emília é uma Ragdoll, minha bolinha de algodão ‘mienta’. Maricota, Freddy-Bear, Yuri e Oliver foram adotados do extinto grupo Adote um Gato, que hoje é o Resgatinhos. 

Cãopetente - Quando, como e por que decidiu ser uma protetora e como ocorreu a ideia de criar o grupo Resgatinhos?

Marilena Cantizani - Me tornar protetora não foi uma decisão ou um ato consciente, simplesmente aconteceu. Eu tive uma gatinha, a Mel, que ficou comigo somente três meses e virou estrelinha. Quando ela ficou doente eu fiquei desesperada e fui para a internet buscar informações e ajuda, e encontrei o grupo de discussão do então Adote um Gato. Fiquei conhecendo a fundadora do grupo, que me colocou em contato com o veterinário que trabalhava com eles e que até hoje atende os meus gatos. No fim não foi possível salvar a Mel, mas adotei uma gatinha do grupo, a Maricota. Fui conhecendo as histórias e dificuldades que os animais de rua enfrentavam, e passei a ajudá-los no que podia. Com o tempo fui assumindo mais e mais responsabilidades, até culminar com o nascimento do Resgatinhos. 

Luke e Yoda 3 anos, para adoção.
Eles são irmãos e serão doados somente juntos.
Cãopetente - Desde quando existe o Resgatinhos?

Marilena Cantizani - O Resgatinhos existe oficialmente desde 2011, mas o grupo nasceu do antigo Adote um Gato, que foi fundado em 2000. São então 13 anos de resgates e aprendizado. Na verdade só houve uma mudança de nome, porque a filosofia que seguimos continua a mesma: não acreditamos em abrigos, resgatamos poucos gatos de cada vez, não queremos abraçar o mundo. Fazemos o que está dentro de nossas possibilidades, da melhor maneira possível. 

Cãopetente - Quantas pessoas ou grupos estão envolvidos no trabalho de resgate de gatos de rua em Campinas?

Marilena Cantizani - Em Campinas existem inúmeros grupos de proteção e protetores independentes, não sei dizer um número exato. Que eu saiba somos o único grupo de resgate exclusivamente de gatos. O nosso grupo é pequeno, conta com seis voluntárias, e mais alguns maridos que entraram na dança (hehe).

Cãopetente – O Resgatinhos possui sede própria?

Marilena Cantizani - Não temos abrigo nem sede. Os gatos resgatados são hospedados em clínicas veterinárias, que nos cedem algumas gaiolinhas, e lá passam o período de quarentena. Depois que são liberados para adoção com sorte, vão para um lar definitivo. Se não for esse o caso, tentamos encontrar um lar temporário, o que ultimamente está bastante difícil. Muitas vezes, o gato acaba ficando na clínica até ser adotado, e para alguns, principalmente os gatos adultos, isso pode levar bastante tempo. Por isso, nosso número de resgates é bastante limitado, pois precisamos doar um gato para poder resgatar outro.


Essa é a mamãe Gengibre. Sua ninhada foi batizada de Bolachinha.
Essa linda gata será doada depois que os filhotes desmamarem
e depois de castrada.
Cãopetente – Quantos animais em média você abrigam?

Marilena Cantizani - Mantemos uma média de 15 animais. Não temos espaço nem recursos para mais do que isso. 

Cãopetente – Os animais resgatados são castrados? Vocês tem parceria com algum médico veterinário, clínica ou órgão do setor público para cirurgias?

Marilena Cantizani - Todos os gatos resgatados são entregues já castrados. Não recebemos nenhum tipo de ajuda de órgãos públicos, mas temos alguns veterinários que nos cobram um preço mais em conta. É importante falar que mais em conta é diferente de barato!

Cãopetente – Quais são os procedimentos padrões a partir do resgate até o animal estar disponível para adoção?

Marilena Cantizani - Depois de resgatado, o animal passa por um período de quarentena completo. Aplicamos todas as doses das vacinas (V4 e antirrábica), vermífugo, castramos e ‘microchipamos’. Só com esse protocolo básico, o gato fica com a gente no mínimo 40 dias se já estiver na idade de castrar. Dependendo do estado de saúde que chega fazemos exames de sangue, fezes, urina, ultrassom, raio-x, cirurgias, o que for preciso. Qualquer tratamento que seja necessário - de fungos, de vermes, rino etc, também é feito. Infelizmente o exame de FIV/FELV1 é muito caro, o que inviabiliza sua realização em todos os gatos, mas fazemos se o estado do animal levantar suspeitas. E se o adotante quiser e bancar com o custo, coletamos o material e mandamos fazer o exame. O animal só será liberado para adoção quando o veterinário diagnosticar boas condições de saúde. Isso é muito importante, pois muitas das pessoas que adotam com a gente já têm outros gatos, e não queremos, de maneira nenhuma, colocar esses outros gatos em risco doando um animal doente. 


Olha que delícia a ninhada da Gengibre!  São dois machos e quatro fêmeas.
São o Biscoito, o Polvilho, Bolacha, a Maisena, Biscuit e a Biju.

Ainda não estão no site. Serão doados somente depois de castrados.
Cãopetente -. Quais são as maiores dificuldades encontradas por instituições, grupos como o seu, ou pessoas que atuam individualmente?

Marilena Cantizani - A proteção animal é um buraco sem fundo na questão despesas. Os gastos são altíssimos e não acabam nunca. E para complicar, as pessoas, de um modo geral, acham que temos a obrigação de atender todos os pedidos de ajuda e resgatar todos os animais do mundo. Então ainda temos que lidar com cobranças e críticas de quem não tem a menor ideia das dificuldades que enfrentamos. Isso acaba dificultando o nosso trabalho, pois gera um desgaste emocional muito grande. Conheço protetores que simplesmente pararam de resgatar porque não aguentaram a pressão do que era pra ser um trabalho voluntário.

Cãopetente - Como fazem para conseguir recursos para manter os gatos?

Marilena Cantizani - Para conseguir seguir com o trabalho, nossa principal preocupação é manter o número de animais dentro de um limite máximo. Não adianta resgatar mais do que damos conta, e consequentemente não cuidar direito. Para ajudar nas despesas, cobramos uma taxa de adoção para cada gato, de cem reais. Esse é um valor que não cobre sequer um terço dos gastos que temos com cada animal, mas já ajuda, e é também uma maneira de conscientizarmos o adotante que manter um gato, ou qualquer animal, gera despesas, e ele precisa estar preparado para isso. Para cobrir o restante das despesas que temos vendemos alguns produtos como camisetas, adesivos, canecas. Também, fazemos um bazar no fim do ano. Este ano iremos pela primeira vez fazer o bingo. Também participamos de alguns eventos, como festas juninas, exposições, etc. E recebemos algumas doações de pessoas simpáticas à causa. Não é nada fácil conseguir o dinheiro necessário para pagar todas as contas. Parece que estamos sempre devendo alguma coisa para alguém. Quando temos gastos altos e inesperados, fazemos rifas e ‘vaquinhas’ on line.

Essa lindeza é a Selena. E olhem que alegria: já está em processo de adoção!
Cãopetente – Vi na página do Facebook que a lojinha virtual está temporariamente inativa. Quando pretendem reativá-la?

Marilena Cantizani - Pois é, precisamos reativar urgentemente nossa lojinha, e esperamos que isso aconteça logo. É que o grupo é pequeno, e são tantos detalhes e afazeres no cuidado diário dos gatinhos e manutenção do site e da página do Facebook, que às vezes as coisas se ‘embolam’ um pouco. Na lojinha pretendemos vender nossas camisetas, adesivos e canecas, e temos planos de incluir outros produtos com a marca Resgatinhos. Destes produtos, a totalidade da venda é revertida para o Resgatinhos. Também temos alguns parceiros, que nos doam uma porcentagem dos produtos que vendem se a pessoa diz que chegou até eles através do nosso site. Para conhecer esses parceiros é só acessar http://www.resgatinhos.com.br/lojas-parceiras/.

Cãopetente – Agora vamos falar do resgate. Gatinhos costumam ser mais arredios. Não bravos. Muitos animais de rua já vivem com muito medo em função dos maus-tratos. Qual o procedimento e cuidados no ato de resgatar um gato? Principalmente aquelas gatinhas com filhotes?

Marilena Cantizani - Por incrível que pareça, ultimamente a maior parte dos gatinhos que resgatamos varia de moderadamente socializado até ‘super dócil’. Na verdade, tão dócil que desconfiamos que já tiveram um lar, e provavelmente foram abandonados. Isso é comum principalmente com gatinhas grávidas. A pessoa não castra, deixa sair pra rua, e quando ela aparece grávida é abandonada à própria sorte. E resgatar esses animais nessa situação é muito fácil. Porque elas estão desesperadas por alguém que cuide delas e dos filhotes. Mas alguns cuidados básicos precisam ser tomados em qualquer resgate, afinal mesmo um animal aparentemente dócil pode reagir mal ao se ver acuado ou ser colocado dentro de uma caixinha de transporte. Antes de mais nada, quem resgata animais precisa estar com a vacinação em dia: antirrábica, tétano, hepatite. Também é legal passar por protocolos de vermifugação frequentes. O resgate de animais muito ariscos envolve um trabalho ainda mais complexo, e nesses casos o uso de luvas de proteção, blusas de manga comprida, e ter o material adequado - gatoeira, puça, etc -, é importante. Na maioria dos resgates que fazemos nosso maior aliado é a fome. Ela é tanta que os gatinhos não resistem ao cheiro do patê e acabam entrando na caixinha voluntariamente. Muitas vezes é preciso criar uma relação de confiança com o animal, alimentá-lo por várias semanas, até que ele se aproxime sem medo, para só então tentar o resgate. É preciso ter muita paciência e persistência. 


Esses são Nutella e Cacau. São mãe e filho. Serão adotados somente juntos.
Cãopetente – Já disse que mantém um número limitado de animais para garantir um bom tratamento enquanto estão sob a guarda do Resgatinhos. Mas ainda assim recebem muitos pedidos para cuidarem de animais por pessoas que não querem ou não podem criar, ou mesmo daquelas que encontram algum gato nas ruas?

Marilena Cantizani - Recebemos muitos emails, todos os dias, de pessoas que tiveram ninhadas abandonadas em suas portas, ou que encontraram gatos na rua, ou ficaram sabendo de colônias em casas vazias. Também de pessoas que não castraram seus animais e agora não sabem o que fazer com os filhotes. Quando temos espaço atendemos a alguns desses pedidos. Mas infelizmente não temos como ajudar todo mundo, pelos motivos que já falei acima. Não temos abrigo, temos vagas limitadas, e dependemos de doar um animal para poder resgatar outro.

Por isso criamos uma segunda página no Facebook, o Resgatinhos Divulga (www.facebook.com/resgatinhosdivulga), exclusivamente para ajudar na divulgação de todos esses animais, do Brasil inteiro. Não temos nenhuma responsabilidade sobre eles. Simplesmente criamos esse canal para aumentar a visibilidade desses animais e suas chances de encontrarem um lar. Nessa página todo contato de pessoas interessadas em adotar é feito diretamente com a pessoa que o encontrou ou resgatou, e é ela que tomará a decisão de como, quando e para quem irá doar. 

Cãopetente - Existe algum programa da prefeitura para castrar animais de rua?

Marilena Cantizani - Aqui em Campinas não existe programa nesse sentido, pelo menos por enquanto. Estamos na torcida para que isso mude logo.

Cãopetente – Imagino que cada resgate, adoção, cada vida dessa salva já seja uma alegria enorme, apesar das dificuldades em manter os animais. Mas eu gostaria que nos contasse algum caso que tenha sido particularmente especial ou que mais te emocionou.

Marilena Cantizani - Cada resgate é especial, e cada gatinho fica no nosso coração. Mas algumas histórias são particularmente tristes e nos tocam de maneira especial. Agora mesmo estamos vivendo a história da gatinha Mia, que foi atropelada e abandonada na clínica quando o 'proprietário' viu que ia ficar super caro cuidar dela (http://www.resgatinhos.com.br/a-historia-da-mia/). Ela é uma gatinha guerreira, que sofreu e ainda sofre muito com tudo o que está passando, mas que mesmo assim está sempre ronronando, sempre feliz, sempre pedindo carinho. Casos assim são muito tristes principalmente porque poderiam ser tão facilmente evitados se o proprietário tivesse um mínimo de responsabilidade. A Mia está sendo cuidada e estamos torcendo para que ela tenha um final feliz, mas sabemos que nem sempre é assim. Em 2011, tivemos um gatinho chamado Corujito, vítima de uma castração mal feita (http://www.noticiaanimal.com.br/viewpost.php?idpost=318). Apesar de todos os nossos esforços para salvá-lo, no fim ele veio a óbito, e levou um pedacinho do nosso coração. Até hoje os olhos de todas nós se enchem de lágrimas quando falamos dele. É muito, muito difícil lidar com as perdas. Por isso precisamos sempre nos concentrar nos gatinhos que conseguimos salvar.

Cãopetente - Como faz para conseguir rações e medicamentos?

Marilena Cantizani - Temos uma parceria com a empresa Royal Canin, que nos vende ração a um preço mais em conta e também nos faz algumas doações. O fato de manter um número reduzido de animais nos permite alimentá-los com ração super premium, e orientamos os adotantes para que façam o mesmo. É um investimento na saúde do animal. Também recebemos a doação de vacinas (V4 e antirrábica) e Frontline da empresa Merial. Por todos os outros medicamentos, assim como exames de qualquer tipo, nós pagamos na íntegra. De vez em quando, se precisamos de um medicamento específico, postamos no Facebook perguntando se alguém teria para doar. Em alguns casos o medicamento não foi todo utilizado e ainda resta a metade do conteúdo que vem em uma caixa, para citar um exemplo. Já recebemos algumas doações assim.


Quem resiste a essas delícias? Essa ninhada é a Frutinha.
mamãe se chama Ameixa.
Seus três filhotes são a Cereja, a Amora e o Caju.
Que salada de frutas deliciosa!

Não estão no site ainda. Serão doados somente depois de castrados
Cãopetente - Vocês atendem casos de denúncias de maus-tratos?

Marilena Cantizani - Aqui em Campinas felizmente contamos com a Delegacia de Proteção Animal. Na verdade não recebemos muitas denúncias de maus-tratos, mas quando acontece, orientamos a pessoa para que procure a delegacia que, espera-se, tomará as providências necessárias. Para fazer uma denúncia de maus-tratos não é suficiente simplesmente falar que seu vizinho fez tal coisa... É preciso apresentar provas como fotos, vídeos e/ou testemunhas, para que a polícia possa fazer alguma coisa, e orientamos as pessoas nesse sentido.

Cãopetente - Fale sobre o processo de adoção. Quais são os procedimentos?

Marilena Cantizani - Nosso protocolo de adoção é extremamente chato e burocrático, e já recebemos críticas por isso. Mas, se com todos os cuidados que tomamos ainda acontece de uma adoção não dar certo, imagine se não tomássemos essas precauções. Todo e qualquer contato para adoção é feito inicialmente com o preenchimento do nosso formulário de adoção (www.resgatinhos.com.br/formulario-de-adocao). Ele é bem longo e completo, e é importante que a pessoa nos forneça o máximo possível de informações. Uma vez recebido o formulário, iremos analisar os pontos cruciais: cidade onde a pessoa mora (não doamos para cidades distantes, somente para Campinas e cidades vizinhas); se o apartamento é telado ou, se for casa, se o acesso à rua é restrito. Muitas vezes a pessoa não tem telas, mas é questão de conversarmos e explicarmos a importância desse procedimento. Algumas vezes o interessado se recusa a telar ou acha 'judiação' manter o gato dentro de casa, ou simplesmente não quer telar porque vai ficar caro, ou a casa vai ficar feia. Nesse caso a adoção não acontece. Não doamos em hipótese alguma para locais onde o gato poderá ter acesso à rua. Estamos cansadas de lidar com as consequências dessa 'liberdade'.

O segundo passo é marcarmos uma visita para a pessoa conhecer o gatinho escolhido, e para que possamos conversar pessoalmente. Em seguida fazemos uma vistoria na casa do interessado, não só para verificar a questão da segurança, mas também para orientar e tirar qualquer dúvida que ela possa ter. Muitas vezes, o adotado será o primeiro gatinho da família. E finalmente, marcamos um dia para a adoção propriamente dita. Nesse momento, o gatinho passará por uma última consulta com o veterinário, com a presença dos adotantes, que poderão esclarecer todas as dúvidas com o médico veterinário. Só então o gatinho vai para o seu novo lar. É um processo longo e chato, reconhecemos isso. Mas ele nos permite conhecer melhor o adotante, entender o que ele espera do animal, ajudá-lo a escolher o perfil que irá se encaixar melhor nessa expectativa. Tudo para que todos saiam ganhando, tanto o gatinho, quanto os adotantes. 

Olhem a ninhada cenourinha. Os gatinhos ainda não
foram batizados. Também não estão no site para adoção,
pois precisam ser castrados primeiro.
Não dá vontade de adotar todos?
Cãopetente - Depois de adotado é possível acompanhar a adoção e verificar se está sendo conduzida da maneira correta pelo novo dono?

Marilena Cantizani - Hoje em dia, com as redes sociais, o acompanhamento do gatinho adotado ficou muito mais fácil. Os tutores normalmente nos adicionam como amigos, e postam fotos e histórias com seus novos gatinhos. Também nos colocamos à disposição para esclarecer dúvidas ou ajudar nesse período de adaptação.

Cãopetente - Infelizmente, a ignorância humana é algo que parece não ter fim. Já se deparou com pessoas querendo adotar gatos com intenções ruins? Isso é, utilização para magias, sacrifícios religiosos, essas coisas. Existe algum procedimento que ajude a prevenir casos assim?

Marilena Cantizani - Infelizmente sim. Também já resgatamos gatos de situações como essas. A última foi a Matilda, que está em processo de adoção, depois de algum tempo conosco  (http://www.resgatinhos.com.br/adote/matilda/). 

Por isso também o nosso processo 'chato' de adoção é tão importante. Ele nos dá a oportunidade de identificar qualquer coisa 'estranha'. Se a pessoa entra em contato com a gente querendo um gatinho 'pra ontem', por exemplo, já ficamos em alerta. Ainda mais se for um gatinho todo preto, ou todo branco. Se estivermos em vésperas de feriados religiosos ou festas como o Halloween, ficamos mais apreensivas ainda, e não doamos mesmo. Em casos assim é muito importante que os grupos de proteção se comuniquem uns com os outros e alertem sobre possíveis adotantes suspeitos, assim ficam todos de sobreaviso e a pessoa não consegue adotar com tanta facilidade.


Cãopetente - O que é ser voluntário nessa causa em prol dos animais?


Marilena Cantizani - Ser voluntário não é fácil. Cuidar e brincar com gatinhos é somente uma das tarefas, e a menor delas. A maior parte do tempo passamos limpando xixi e cocô de gato, nos desdobrando para conseguir mais dinheiro para cobrir as despesas, nos descabelando e desesperando quando alguém fica doente, bolando campanhas para os gatinhos 'encalhadinhos' (normalmente adultos e/ou pretinhos/escaminhas); e o mais cansativo de tudo, lidando com a ignorância de muitas pessoas no que se refere aos gatos. O nível de comprometimento é muito alto, a pessoa precisa estar disposta a abrir mão dos fins de semana, perder o churrasco na casa do amigo porque precisa correr atrás de alguma coisa para a ONG, deixar de ir no almoço de família porque tem um evento. Sabemos que não é fácil, e muitos voluntários começam e 'somem' em pouco tempo. Cansa. Mais do que isso, é exaustivo. Mas os gatinhos merecem. :-)


Importante

(...) o número de abandonos, tanto de gatos como de cães, parece estar aumentando cada vez mais.

"Eu gostaria de fazer mais uma observação sobre o nosso processo chato de adoção. Como eu disse, os gatinhos que temos resgatado ultimamente são em sua maioria muito dóceis, o que indica que já tiveram um lar e convivência com humanos. Conversando com outros protetores, percebemos que o número de abandonos, tanto de gatos como de cães, parece estar aumentando cada vez mais. Muitas pessoas adotam por impulso, sem pesar todas as responsabilidades que estão assumindo e, ao passar por uma dificuldade financeira, ou precisar mudar de casa, ou com a chegada de um bebê, simplesmente abandonam o animal. Por isso é tão importante fazer sim uma seleção criteriosa dos adotantes. Adotar é um compromisso de longo prazo, e não é qualquer um que pode ter um animal, ou que está preparado para ter um animal. Muitos dos animais que são doados sem que se faça qualquer tipo de seleção acabam sendo abandonados novamente. Durante o nosso processo de adoção levantamos todos esses pontos e conversamos muito com o interessado, e já tivemos casos em que a pessoa repensou a adoção e desistiu, porque viu que não era o momento de assumir tal compromisso." 
Marilena Cantizani. Protetora.



Informações úteis

- Quem quiser ajudar, seja financeiramente ou com doação de itens, é só acessar a página www.resgatinhos.com.br/como-ajudar. Lá constam todas as informações para os procedimentos de auxílio.

- Delegacia de Proteção Animal de Campinas/SP - Rua Odila Maia Rocha Brito, nº 8. Telefone: 3256-4700.


Matilda, uma história que começou triste, mas que tudo está sendo feito para ter um grande final feliz!

Quem está acompanhando o Cãopetente pelo Facebook, certamente deve se lembrar da Matilda, a bela gata negra citada na entrevista. E será a história dela que contaremos na próxima entrevista que o Zeus irá fazer para o Pet a Pet. O melhor: quando publicamos sua foto, ela ainda não estava em processo de adoção. E agora está na iminência de ganhar um belo lar e, finalmente, ter uma família para dar e receber muito amor. Talvez vá para a mesma casa junto com a Maria Mienta. Olhem essas duas nas imagens abaixo. Merecem, como todos os outros milhares de gatos abandonados, um lar, uma família, uma vida feliz.

Matilda. Prestes a ter um lar...

Maria Mienta. Essa gatinha que tem menos de um ano de idade, deverá fazer parte
da mesma família que adotará a Matilda.
Que dê tudo certo e que sejam muito felizes!
Até mais ver.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Participe! Deixe seu comentário ou sugestão. Nossa proposta é contribuir com informações positivas e úteis sobre animais de estimação. Apenas não serão publicados comentários ofensivos e que não estejam de acordo com nossos objetivos. Faça uma parceria CÃOPETENTE conosco! Esse espaço também é seu.