Protetores de animais.
Sinônimo de trabalho, obstinação e muito amor.
Prezados leitores, vocês podem até pular essa longa introdução
e ir direto para a entrevista com a protetora Marilena Cantizani, que
está muito bacana. Mas eu diria que vale a pena tomar conhecimento dos dados que
eu coloco, para vocês ajudarem inclusive a divulgar e fazer chegar principalmente
àquelas pessoas que abandonam animais como se fossem objetos. Elas são
responsáveis por números alarmantes em todo o Brasil. E, da mesma forma, são
responsáveis por um problema de saúde pública. Afinal, o raciocínio é simples.
Animais de ruas não são submetidos a medidas preventivas de saúde, estando mais suscetíveis à contaminação e, consequentemente, à transmissão de algumas dessas doenças. A mais
conhecida delas, a raiva.
“A Organização Mundial
da Saúde estima que só no Brasil existam mais de 30 milhões de animais
abandonados, entre 10 milhões de gatos e 20 milhões de cães. Em cidades de
grande porte, para cada cinco habitantes há um cachorro. Destes, 10% estão
abandonados. No interior, em cidades menores, a situação não é muito diferente.
Em muitos casos o numero chega a 1/4 da população humana.”
Esse
trecho retirado de uma matéria reproduzida pela Agência de Notícias de Direitos
Animais – ANDA, (http://www.anda.jor.br/13/09/2013/brasil-tem-30-milhoes-de-animais-abandonados),
aponta números absurdos. Nada que já não saibamos, mesmo que de maneira pouco
precisa. Não houve cidade por onde eu passasse, mesmo que em poucas por esse
enorme Brasil, onde não fossem vistos cães e gatos perambulando pelas ruas.
Considerando-se que, mesmo alimentados nas ruas por alguém que se compadeça com
a fome desses seres, cuidados básicos de saúde e nutrição são impossíveis de
serem mantidos por esses benfeitores. Afinal, um animal para ser bem cuidado,
precisa ter uma guarda responsável, um lar; alguém disposto a ter custos com sua
saúde, cuidados com a questão comportamental, além de muito amor.
Vamos
fazer uma conta baseada no dado apresentado acima. Peguemos como exemplo a maior
população brasileira, a da cidade de São Paulo. De acordo com dados do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, a população estimada de
paulistas na capital para 2013 é de 11.821.873 habitantes. Esse total, dividido
por cinco representa o número de cães, que é de quase 2,4 milhões. Destes, mais
de 236 mil estão abandonados pelas ruas. E nós nem contamos a população de gatos abandonados.
Mas se imaginarmos que a cidade de São Paulo segue a estatística nacional, a
metade do número de cães abandonados, isso é, 118 mil, corresponde ao número
aproximado de gatos de rua. Triste, não é mesmo?
Faltam
ações públicas concretas para o controle da população de animais abandonados.
Falta responsabilidade por parte de milhares de pessoas que adotam, compram ou
ganham animais e que por vários motivos simplesmente os abandonam pelas ruas de
todas as cidades pelo Brasil afora. Mais de 30 milhões de animais abandonados apenas em território brasileiro corresponde a três vezes a população de humanos do município de São
Paulo.
Toda essa matemática é uma tentativa
de mostrar a dimensão do problema. Além dos maus-tratos sofridos por esses
animais nas ruas, outras questões sérias precisam ser consideradas, pois
animais soltos também é um caso de saúde pública.
Quem faz a diferença?
Diante
dessa realidade e desses números, entram as instituições que acolhem, cuidam e colocam
os animais para adoção, bem como, e com uma importância imensurável, os
protetores que desempenham o mesmo papel das instituições, passam pelos mesmos
problemas, ou alguns ainda maiores, e que muitas vezes são cobrados por uma
parcela de pessoas que pouco conhece a rotina estressante dos obstinados e
corajosos defensores de animais, que lutam, da maneira que conseguem, contra essa
realidade. Alguns com possibilidade de acolher mais animais, outros nem tanto. Mas todos, indiscutivelmente, fazendo a diferença e oportunizando uma vida
melhor, com respeito e zelo a muitos cães e gatos.
Convidei algumas pessoas pelo Facebook escolhidas de maneira aleatória, para nos contar o seu dia a dia nessa luta interminável para, se não acabar, pelo menos atenuar essa realidade tão brutal.
Hoje
a entrevista é com a tradutora juramentada de inglês, moradora de Campinas, Marilena
Cantizani. Com 44 anos, há mais de uma década vem se dedicando a resgatar gatos
pelas ruas da sua cidade e tentando encontrar lares dignos desses animais que
muitos esquecem que são seres vivos e indefesos. Seu grupo, ResGatinhos, possui
página no Facebook e faz parceria com clínicas veterinárias para cuidar dos
gatos e prepará-los para adoção.
"Fazemos o que está dentro de nossas possibilidades, da melhor maneira possível."
Cãopetente
– Quantos gatos fazem parte da sua família?
Marilena
Cantizani - Tenho seis gatos.
Horácio, 11 anos; Maricota e Freddy-Bear
com 10; Yuri e Emília tem oito anos e Oliver, sete. Horácio é um Sagrado da
Birmânia, o primeiro gato que tive na vida. Foi ele que fez com que eu me
apaixonasse perdidamente pelos felinos. Emília é uma Ragdoll, minha bolinha de
algodão ‘mienta’. Maricota, Freddy-Bear, Yuri e Oliver foram adotados do extinto
grupo Adote um Gato, que hoje é o Resgatinhos.
Cãopetente - Quando, como e por que decidiu
ser uma protetora e como ocorreu a ideia de criar o grupo Resgatinhos?
Marilena Cantizani - Me tornar
protetora não foi uma decisão ou um ato consciente, simplesmente aconteceu. Eu
tive uma gatinha, a Mel, que ficou comigo somente três meses e virou
estrelinha. Quando ela ficou doente eu fiquei desesperada e fui para a internet
buscar informações e ajuda, e encontrei o grupo de discussão do então Adote um
Gato. Fiquei conhecendo a fundadora do grupo, que me colocou em contato com o
veterinário que trabalhava com eles e que até hoje atende os meus gatos. No fim
não foi possível salvar a Mel, mas adotei uma gatinha do grupo, a Maricota. Fui
conhecendo as histórias e dificuldades que os animais de rua enfrentavam,
e passei a ajudá-los no que podia. Com o tempo fui assumindo mais e mais
responsabilidades, até culminar com o nascimento do Resgatinhos.
Luke e Yoda 3 anos, para adoção. Eles são irmãos e serão doados somente juntos. |
Marilena Cantizani - O Resgatinhos existe oficialmente desde 2011, mas o grupo nasceu do
antigo Adote um Gato, que foi fundado em 2000. São então 13 anos de resgates e
aprendizado. Na verdade só houve uma mudança de nome, porque a filosofia que
seguimos continua a mesma: não acreditamos em abrigos, resgatamos poucos gatos
de cada vez, não queremos abraçar o mundo. Fazemos o que está dentro de nossas
possibilidades, da melhor maneira possível.
Cãopetente - Quantas pessoas ou grupos estão envolvidos no
trabalho de resgate de gatos de rua em Campinas?
Marilena Cantizani - Em Campinas
existem inúmeros grupos de proteção e protetores independentes, não sei dizer
um número exato. Que eu saiba somos o único grupo de resgate exclusivamente de
gatos. O nosso grupo é pequeno, conta com seis voluntárias, e mais alguns maridos
que entraram na dança (hehe).
Cãopetente – O Resgatinhos possui sede
própria?
Marilena Cantizani - Não temos abrigo
nem sede. Os gatos resgatados são hospedados em clínicas veterinárias, que nos
cedem algumas gaiolinhas, e lá passam o período de quarentena. Depois que são
liberados para adoção com sorte, vão para um lar definitivo. Se não for esse o
caso, tentamos encontrar um lar temporário, o que ultimamente está bastante
difícil. Muitas vezes, o gato acaba ficando na clínica até ser adotado, e para
alguns, principalmente os gatos adultos, isso pode levar bastante tempo. Por
isso, nosso número de resgates é bastante limitado, pois precisamos doar um
gato para poder resgatar outro.
Essa é a mamãe Gengibre. Sua ninhada foi batizada de Bolachinha. Essa linda gata será doada depois que os filhotes desmamarem e depois de castrada. |
Marilena Cantizani - Mantemos uma
média de 15 animais. Não temos espaço nem recursos para mais do que isso.
Cãopetente – Os animais resgatados são
castrados? Vocês tem parceria com algum médico veterinário, clínica ou órgão do
setor público para cirurgias?
Marilena Cantizani - Todos os gatos
resgatados são entregues já castrados. Não recebemos nenhum tipo de ajuda de
órgãos públicos, mas temos alguns veterinários que nos cobram um preço mais em
conta. É importante falar que mais em conta é diferente de barato!
Cãopetente – Quais são os procedimentos padrões
a partir do resgate até o animal estar disponível para adoção?
Marilena Cantizani - Depois de resgatado, o animal passa por um período de quarentena completo. Aplicamos todas as doses das vacinas (V4 e antirrábica), vermífugo, castramos e ‘microchipamos’. Só com esse protocolo básico, o gato fica com a gente no mínimo 40 dias se já estiver na idade de castrar. Dependendo do estado de saúde que chega fazemos exames de sangue, fezes, urina, ultrassom, raio-x, cirurgias, o que for preciso. Qualquer tratamento que seja necessário - de fungos, de vermes, rino etc, também é feito. Infelizmente o exame de FIV/FELV1 é muito caro, o que inviabiliza sua realização em todos os gatos, mas fazemos se o estado do animal levantar suspeitas. E se o adotante quiser e bancar com o custo, coletamos o material e mandamos fazer o exame. O animal só será liberado para adoção quando o veterinário diagnosticar boas condições de saúde. Isso é muito importante, pois muitas das pessoas que adotam com a gente já têm outros gatos, e não queremos, de maneira nenhuma, colocar esses outros gatos em risco doando um animal doente.
Cãopetente -. Quais são as maiores dificuldades encontradas por instituições, grupos como o seu, ou pessoas que atuam individualmente?
Marilena Cantizani - A proteção
animal é um buraco sem fundo na questão despesas. Os gastos são altíssimos e
não acabam nunca. E para complicar, as pessoas, de um modo geral, acham que
temos a obrigação de atender todos os pedidos de ajuda e resgatar todos os
animais do mundo. Então ainda temos que lidar com cobranças e críticas de quem
não tem a menor ideia das dificuldades que enfrentamos. Isso acaba dificultando
o nosso trabalho, pois gera um desgaste emocional muito grande. Conheço
protetores que simplesmente pararam de resgatar porque não aguentaram a pressão
do que era pra ser um trabalho voluntário.
Cãopetente - Como fazem para conseguir
recursos para manter os gatos?
Marilena Cantizani - Para conseguir seguir com o trabalho, nossa principal preocupação é manter o número de animais dentro de um limite máximo. Não adianta resgatar mais do que damos conta, e consequentemente não cuidar direito. Para ajudar nas despesas, cobramos uma taxa de adoção para cada gato, de cem reais. Esse é um valor que não cobre sequer um terço dos gastos que temos com cada animal, mas já ajuda, e é também uma maneira de conscientizarmos o adotante que manter um gato, ou qualquer animal, gera despesas, e ele precisa estar preparado para isso. Para cobrir o restante das despesas que temos vendemos alguns produtos como camisetas, adesivos, canecas. Também, fazemos um bazar no fim do ano. Este ano iremos pela primeira vez fazer o bingo. Também participamos de alguns eventos, como festas juninas, exposições, etc. E recebemos algumas doações de pessoas simpáticas à causa. Não é nada fácil conseguir o dinheiro necessário para pagar todas as contas. Parece que estamos sempre devendo alguma coisa para alguém. Quando temos gastos altos e inesperados, fazemos rifas e ‘vaquinhas’ on line.
Essa lindeza é a Selena. E olhem que alegria: já está em processo de adoção! |
Marilena Cantizani - Pois é,
precisamos reativar urgentemente nossa lojinha, e esperamos que isso aconteça
logo. É que o grupo é pequeno, e são tantos detalhes e afazeres no cuidado
diário dos gatinhos e manutenção do site e da página do Facebook, que às
vezes as coisas se ‘embolam’ um pouco. Na lojinha pretendemos vender nossas
camisetas, adesivos e canecas, e temos planos de incluir outros produtos com a
marca Resgatinhos. Destes produtos,
a totalidade da venda é revertida para o Resgatinhos. Também temos alguns
parceiros, que nos doam uma porcentagem dos produtos que vendem se a pessoa diz
que chegou até eles através do nosso site. Para conhecer esses parceiros é só
acessar http://www.resgatinhos.com.br/lojas-parceiras/.
Cãopetente – Agora vamos falar do resgate. Gatinhos costumam
ser mais arredios. Não bravos. Muitos animais de rua já vivem com muito medo em
função dos maus-tratos. Qual o procedimento e cuidados no ato de resgatar um
gato? Principalmente aquelas gatinhas com filhotes?
Marilena Cantizani - Por incrível que
pareça, ultimamente a maior parte dos gatinhos que
resgatamos varia de moderadamente socializado até ‘super dócil’. Na
verdade, tão dócil que
desconfiamos que já tiveram um lar, e provavelmente foram abandonados. Isso é
comum principalmente com gatinhas grávidas. A pessoa não castra, deixa sair pra
rua, e quando ela aparece grávida é abandonada à própria sorte. E resgatar esses
animais nessa situação é muito fácil. Porque elas estão desesperadas por alguém
que cuide delas e dos filhotes. Mas alguns cuidados básicos precisam ser
tomados em qualquer resgate, afinal mesmo um animal aparentemente dócil pode
reagir mal ao se ver acuado ou ser colocado dentro de uma caixinha de
transporte. Antes de mais nada, quem resgata animais precisa estar com a
vacinação em dia: antirrábica, tétano, hepatite. Também é legal passar por
protocolos de vermifugação frequentes. O resgate de animais muito ariscos
envolve um trabalho ainda mais complexo, e nesses casos o uso de luvas de
proteção, blusas de manga comprida, e ter o material adequado - gatoeira, puça,
etc -, é importante. Na maioria dos resgates que fazemos nosso maior aliado é a
fome. Ela é tanta que os gatinhos não resistem ao cheiro do patê e acabam entrando na
caixinha voluntariamente. Muitas vezes é preciso criar uma relação de confiança
com o animal, alimentá-lo por várias semanas, até que ele se aproxime sem medo,
para só então tentar o resgate. É preciso ter muita paciência e persistência.
Esses são Nutella e Cacau. São mãe e filho. Serão adotados somente juntos. |
Marilena Cantizani - Recebemos muitos emails, todos os dias, de pessoas que tiveram ninhadas abandonadas em
suas portas, ou que encontraram gatos na rua, ou ficaram sabendo de colônias em
casas vazias. Também de pessoas que não castraram seus animais e agora não
sabem o que fazer com os filhotes. Quando temos espaço atendemos a alguns
desses pedidos. Mas infelizmente não temos como ajudar todo mundo, pelos
motivos que já falei acima. Não temos abrigo, temos vagas limitadas, e
dependemos de doar um animal para poder resgatar outro.
Por isso criamos uma segunda página no Facebook, o Resgatinhos Divulga (www.facebook.com/resgatinhosdivulga), exclusivamente para ajudar na divulgação de todos
esses animais, do Brasil inteiro. Não temos nenhuma responsabilidade sobre eles.
Simplesmente criamos esse canal para aumentar a visibilidade desses animais e
suas chances de encontrarem um lar. Nessa página todo contato de pessoas
interessadas em adotar é feito diretamente com a pessoa que o encontrou ou resgatou,
e é ela que tomará a decisão de como, quando e para quem irá doar.
Cãopetente - Existe algum programa da prefeitura para castrar
animais de rua?
Marilena Cantizani - Aqui em Campinas
não existe programa nesse sentido, pelo menos por enquanto. Estamos na torcida
para que isso mude logo.
Cãopetente – Imagino que cada resgate, adoção, cada vida dessa salva já seja uma alegria enorme, apesar das dificuldades em manter os animais. Mas eu gostaria que nos contasse algum caso que tenha sido particularmente especial ou que mais te emocionou.
Marilena Cantizani - Cada resgate é
especial, e cada gatinho fica no nosso coração. Mas algumas histórias são
particularmente tristes e nos tocam de maneira especial. Agora mesmo estamos
vivendo a história da gatinha Mia, que foi atropelada e abandonada na clínica
quando o 'proprietário' viu que ia ficar super caro cuidar dela (http://www.resgatinhos.com.br/a-historia-da-mia/). Ela é uma gatinha guerreira, que sofreu e ainda
sofre muito com tudo o que está passando, mas que mesmo assim está sempre
ronronando, sempre feliz, sempre pedindo carinho. Casos assim são muito tristes
principalmente porque poderiam ser tão facilmente evitados se o proprietário
tivesse um mínimo de responsabilidade. A Mia está sendo cuidada e estamos
torcendo para que ela tenha um final feliz, mas sabemos que nem sempre é assim.
Em 2011, tivemos um gatinho chamado Corujito, vítima de uma castração mal feita
(http://www.noticiaanimal.com.br/viewpost.php?idpost=318). Apesar de todos os nossos esforços para salvá-lo,
no fim ele veio a óbito, e levou um pedacinho do nosso coração. Até hoje os
olhos de todas nós se enchem de lágrimas quando falamos dele. É muito, muito
difícil lidar com as perdas. Por isso precisamos sempre nos concentrar nos gatinhos que conseguimos salvar.
Cãopetente - Como faz para conseguir rações e
medicamentos?
Marilena Cantizani - Temos uma
parceria com a empresa Royal Canin, que nos vende ração a um preço mais em
conta e também nos faz algumas doações. O fato de manter um número reduzido de
animais nos permite alimentá-los com ração super premium, e orientamos os
adotantes para que façam o mesmo. É um investimento na saúde do animal. Também recebemos a doação de vacinas (V4 e antirrábica) e Frontline da
empresa Merial. Por todos os outros
medicamentos, assim como exames de qualquer tipo, nós pagamos na íntegra. De
vez em quando, se precisamos de um medicamento específico, postamos no Facebook
perguntando se alguém teria para doar. Em alguns casos o medicamento não foi
todo utilizado e ainda resta a metade do conteúdo que vem em uma caixa, para
citar um exemplo. Já recebemos algumas doações assim.
Vocês atendem casos de denúncias de maus-tratos?
Marilena
Cantizani - Aqui em Campinas felizmente contamos com a Delegacia de Proteção Animal.
Na verdade não recebemos muitas denúncias de maus-tratos, mas quando acontece, orientamos
a pessoa para que procure a delegacia que, espera-se, tomará as providências
necessárias. Para fazer uma denúncia de maus-tratos não é suficiente simplesmente
falar que seu vizinho fez tal coisa... É preciso apresentar provas como fotos,
vídeos e/ou testemunhas, para que a polícia possa fazer alguma coisa, e
orientamos as pessoas nesse sentido.
Cãopetente - Fale sobre o processo de adoção.
Quais são os procedimentos?
Marilena Cantizani - Nosso protocolo
de adoção é extremamente chato e burocrático, e já recebemos críticas por isso.
Mas, se com todos os cuidados que tomamos ainda acontece de uma adoção não dar
certo, imagine se não tomássemos essas precauções. Todo e qualquer contato para
adoção é feito inicialmente com o preenchimento do nosso formulário de adoção (www.resgatinhos.com.br/formulario-de-adocao). Ele é bem longo e completo, e é importante que a
pessoa nos forneça o máximo possível de informações. Uma vez recebido o
formulário, iremos analisar os pontos cruciais: cidade onde a pessoa mora (não
doamos para cidades distantes, somente para Campinas e cidades vizinhas); se o
apartamento é telado ou, se for casa, se o acesso à rua é restrito. Muitas
vezes a pessoa não tem telas, mas é questão de conversarmos e explicarmos a
importância desse procedimento. Algumas vezes o interessado se recusa a telar ou
acha 'judiação' manter o gato dentro de casa, ou simplesmente não quer telar
porque vai ficar caro, ou a casa vai ficar feia. Nesse caso a adoção não
acontece. Não doamos em hipótese alguma para locais onde o gato poderá ter
acesso à rua. Estamos cansadas de lidar com as consequências dessa 'liberdade'.
O segundo passo é marcarmos uma visita para a pessoa conhecer o gatinho
escolhido, e para que possamos conversar pessoalmente. Em seguida fazemos uma
vistoria na casa do interessado, não só para verificar a questão da segurança, mas também para orientar e tirar qualquer dúvida que ela possa ter. Muitas
vezes, o adotado será o primeiro gatinho da família. E finalmente, marcamos um
dia para a adoção propriamente dita. Nesse momento, o gatinho passará por uma
última consulta com o veterinário, com a presença dos adotantes, que poderão esclarecer
todas as dúvidas com o médico veterinário. Só então o gatinho vai para o seu
novo lar. É um processo longo e chato, reconhecemos isso. Mas ele nos permite
conhecer melhor o adotante, entender o que ele espera do animal, ajudá-lo a
escolher o perfil que irá se encaixar melhor nessa expectativa. Tudo para que
todos saiam ganhando, tanto o gatinho, quanto os adotantes.
Olhem a ninhada cenourinha. Os gatinhos ainda não foram batizados. Também não estão no site para adoção, pois precisam ser castrados primeiro. Não dá vontade de adotar todos? |
Marilena Cantizani - Hoje em dia, com
as redes sociais, o acompanhamento do gatinho adotado ficou muito mais fácil.
Os tutores normalmente nos adicionam como amigos, e postam fotos e histórias com
seus novos gatinhos. Também nos colocamos à disposição para esclarecer
dúvidas ou ajudar nesse período de adaptação.
Cãopetente - Infelizmente, a ignorância humana
é algo que parece não ter fim. Já se deparou com pessoas querendo adotar
gatos com intenções ruins? Isso é, utilização para magias, sacrifícios religiosos, essas coisas. Existe algum procedimento que ajude a prevenir
casos assim?
Marilena
Cantizani - Infelizmente sim. Também já resgatamos gatos de situações como essas. A
última foi a Matilda, que está em processo de adoção, depois de algum tempo
conosco (http://www.resgatinhos.com.br/adote/matilda/).
Por isso também o nosso processo 'chato' de adoção é tão importante. Ele nos dá a oportunidade de identificar qualquer coisa 'estranha'. Se a pessoa entra em contato com a gente querendo um gatinho 'pra ontem', por exemplo, já ficamos em alerta. Ainda mais se for um gatinho todo preto, ou todo branco. Se estivermos em vésperas de feriados religiosos ou festas como o Halloween, ficamos mais apreensivas ainda, e não doamos mesmo. Em casos assim é muito importante que os grupos de proteção se comuniquem uns com os outros e alertem sobre possíveis adotantes suspeitos, assim ficam todos de sobreaviso e a pessoa não consegue adotar com tanta facilidade.
Cãopetente - O que é ser voluntário nessa causa em prol dos animais?
Marilena Cantizani - Ser voluntário não é fácil. Cuidar e brincar com gatinhos é somente uma das tarefas, e a menor delas. A maior
parte do tempo passamos limpando xixi e cocô de gato, nos desdobrando para
conseguir mais dinheiro para cobrir as despesas, nos descabelando e
desesperando quando alguém fica doente, bolando campanhas para os gatinhos 'encalhadinhos' (normalmente adultos e/ou
pretinhos/escaminhas); e o mais cansativo de tudo, lidando com a ignorância de
muitas pessoas no que se refere aos gatos. O nível de comprometimento é muito
alto, a pessoa precisa estar disposta a abrir mão dos fins de semana, perder o
churrasco na casa do amigo porque precisa correr atrás de alguma coisa para a ONG,
deixar de ir no almoço de família porque tem um evento. Sabemos que não é
fácil, e muitos voluntários começam e 'somem' em pouco tempo. Cansa. Mais do
que isso, é exaustivo. Mas os gatinhos merecem. :-)
Importante
(...) o número de abandonos, tanto de gatos como de cães, parece estar aumentando cada vez mais.
"Eu gostaria de fazer mais uma observação sobre o nosso
processo chato de adoção. Como eu disse, os gatinhos que
temos resgatado ultimamente são em sua maioria muito dóceis, o que indica que
já tiveram um lar e convivência com humanos. Conversando com outros protetores,
percebemos que o número de abandonos, tanto de gatos como de cães, parece estar
aumentando cada vez mais. Muitas pessoas adotam por impulso, sem pesar todas as
responsabilidades que estão assumindo e, ao passar por uma dificuldade
financeira, ou precisar mudar de casa, ou com a chegada de um bebê,
simplesmente abandonam o animal. Por isso é tão importante fazer sim uma
seleção criteriosa dos adotantes. Adotar é um compromisso de longo prazo, e não é
qualquer um que pode ter um animal, ou que está preparado para ter um animal.
Muitos dos animais que são doados sem que se faça qualquer tipo de seleção
acabam sendo abandonados novamente. Durante o nosso processo de adoção
levantamos todos esses pontos e conversamos muito com o interessado, e já tivemos
casos em que a pessoa repensou a adoção e desistiu, porque viu que não era o
momento de assumir tal compromisso."
Marilena Cantizani. Protetora.
Informações úteis
- Quem quiser ajudar, seja financeiramente ou com doação de itens, é só
acessar a página www.resgatinhos.com.br/como-ajudar. Lá
constam todas as informações para os procedimentos de auxílio.
- Delegacia de Proteção Animal de Campinas/SP - Rua Odila Maia Rocha
Brito, nº 8. Telefone: 3256-4700.
Matilda, uma história que começou triste, mas que tudo está sendo feito para ter um grande final feliz!
Quem está
acompanhando o Cãopetente pelo Facebook, certamente deve se lembrar da Matilda, a
bela gata negra citada na entrevista. E será a história dela que
contaremos na próxima entrevista que o Zeus irá fazer para o Pet a Pet. O melhor: quando publicamos sua foto, ela ainda não estava
em processo de adoção. E agora está na iminência de ganhar um belo lar e, finalmente,
ter uma família para dar e receber muito amor. Talvez vá para a mesma casa junto com a Maria Mienta. Olhem essas duas nas imagens abaixo. Merecem, como todos os outros milhares de gatos abandonados, um lar, uma família, uma vida feliz.
Matilda. Prestes a ter um lar... |
Maria Mienta. Essa gatinha que tem menos de um ano de idade, deverá fazer parte da mesma família que adotará a Matilda. Que dê tudo certo e que sejam muito felizes! |
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